Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é

Resistir

Vou te contar

... que me lembro de tudo ...

Estás aí, nao estás?

... quando o meu sorriso se enrola assim na lembrança da tua voz ...

Nostalgia

... podes ser música em mim a fazer girar cada verso teu ...
... quando girar é o querer musicado de um beijo que não morreu ...

Velha infância

Quantos queres?

Seis!
.
um
dois
três
quatro
cinco
seis

Movem-se dedos sobre olhares atentos...
... descobre-se a sorte pelos quatro cantos...

*descobri este "bocadinho" da minha infância no meio das brincadeiras do meu filho... era viciada, e para ter sorte fazia batota... brincava de parar na mesma escolha, repetindo para isso o mesmo número. O final era sempre feliz, quando não me trocavam as voltas, claro! Agora oiço-me (tanto) no sorriso do meu filho...

Mesmo ainda sem saber

Fizemos assim a nossa rua
onde as mãos entrelaçavam folhas
saboreando cada livro
escolhido para ler
.
fazíamos nascer cada poema
ao nosso jeito
e trocávamos tudo
mesmo ainda sem saber
que não era apenas uma rua
a nascer dentro do peito

Oh, pedaço de mim

um pedaço de mim é pedra
outro é terra
e há ainda um outro pedaço, que és tu...

Mesmo que seja breve

Mesmo que seja breve
revela-me essa viagem
ao atravessares o rio
serei a outra margem
.
os meus olhos vão enxugar-se
na água do teu reflexo
.
é que há dias assim
não seres uma miragem
quando amanheces em mim

Medidas de peso

... que só o tempo pode revelar ...

Fora de Água

... há um impulso que nos desregula a respiração ... fora de água ...

Se eu não estiver deixa um bilhete

... entrelaçado no tempo que me prende a ti ...

Resistir

... a uma só pergunta ...

(A)manhã

Saiu sem dizer nada. Às vezes guarda no silêncio as palavras que calam a vontade de dizer. Esta era uma manhã diferente de todas as outras, nascida de uma cor invulgar, indefinidamente perdida no azul de um céu envergonhado ou coberto de pequenas nuvens. Os seus passos marcam um compasso diferente, nasce assim a música que faz desta uma manhã diferente, um acordar invulgar, único. Ouves agora o que calas? Sorriu, continuando manhã fora...

Outras palavras

Cada um...

... sabe a dor...

... e a delícia ...

... de ser o que é !

*e isso é tão bonito...

Tremor

Se soubesses
o quanto a tua voz me diz
passarias de um outro jeito
mesmo que fosse por um triz
.
e neste sopro do olhar
talvez eu perdesse o medo
deste tremor imenso que teima em ficar
.
se soubesses...

Agora...

Moldo agora os sonhos
dentro deste balão
faço deles a minha terra
como se a terra que tenho
fosse a outra margem do meu coração

Turbilhão

Por dentro
há tempo revolto
que agita e acalma
mas mesmo assim não nos move

por dentro o tempo é maior
sempre que a nossa alma o descobre

Lado a lado

Pode mesmo acontecer
a vida toda num segundo
colam-se as mãos à pele
enquanto morre o outro lado do mundo

*para ti pai... onde estiveres...

Chão

De olhos semicerrados… deixo que se confundam, chão e céu. Deixo que os meus olhos me mostrem poderes celestiais… os meus pés despidos pisam cada pedaço da terra, mas não são a terra que pisam… livres afagam o céu e presos à terra voam transparentes como se fossem um véu…

Vesti-me de flores

Vesti-me de flores

e saí para a rua

olhei-me nas sombras

e senti-me nua

de olhos no chão

e alma despida

voltei para casa

era noite estendida

.

Que os dias claros

são pétalas vermelhas ... de veludo... de tudo...

Linhas

... são caminhos onde se deitam as frases escritas ... por onde me perco, onde me encontro.